quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Manias e Tiques

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo é bem conhecido dos portadores de Tourette, por este ser uma de suas comorbidades. Controlar os nossos pensamentos já é coisa bem difícil, fico imaginando a cabeçinha de pessoas com TOC. Que angustiante deve ser, repetir inúmeras vezes a mesma coisa, ou ter um pensamento fixo. E mais difícil ainda, é saber que se tem consciência do que está acontecendo e não conseguir afastar o pensamento. Nós, familiares , sofrememos muito também, primeiro antes do diagnóstico( porque, por mais que o TOC esteja sendo tão divulgado na mídia, os sintomas mais frequentes são os que aparecem) depois a impotência que sentimos, o medo do que mais pode acontecer, a dor de ver o sofrimento do portador, e a necessidade de ajudá-lo. Digo porque já senti tudo isso, e diante do que se vai ler, eu conheci apenas os mais leves e acreditem : é um sofrimento!
Mas , o começo dessa reportagem , nos alerta : conhecer nossos filhos  e verificar o "algo errado" é fundamental para um bom tratamento, principalmente dos que tem Tourette!


Transtorno Obsessivo-Compulsivo em crianças


        FONTE:  http://www.psiqweb.med.br

Um dos maiores enganos da população geral em relação aos problemas psiquiátricos que acometem as crianças é, justamente, acreditar que as crianças não têm problemas psiquiátricos.
O Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) é um desses exemplos. Ele surge como a persistência de algumas manias, alguns tiques e, quando a criança tem liberdade para falar sobre o que sente, de pensamentos absurdos que “não saem da cabeça”.

Embora esse quadro, causador de grande sofrimento, tenha geralmente início na adolescência ou começo da idade adulta, ele pode aparecer na infância de forma tão comum quanto em adultos. Cerca de 30 a 50% dos pacientes adultos com TOC referem que o início do transtorno foi na infância ou adolescência.


Com mais freqüência o início do TOC infantil é gradual, mas em alguns casos pode ser agudo e a média de idade para seu surgimento é dos 6 aos 11 anos. As crianças comumente tentam ocultar seus sintomas, dificultando assim um diagnóstico mais precoce. E o tratamento precoce minimiza muito o sofrimento e o prejuízo causado pelo TOC.

É habitual e até normal existir um pequeno grau de obsessões nas crianças, como por exemplo, não parar de contar as árvores ou postes que passam quando viajam de carro, não pisar nos riscos das calçadas, e coisas assim. Com o amadurecimento da pessoa e de seu sistema nervoso central esses pensamentos intrusivos vão desaparecendo, porém, não é incomum alguns adultos conservarem resquício desses pensamentos e até de comportamentos compulsivos, como por exemplo, verificar várias vezes se a porta está fechada, se o gás está aberto, etc.

O mais comum é que o TOC se manifeste em pessoas com forte traço de ansiedade na personalidade . Esse traço ou, quando mais intenso, esse transtorno obsessivo da personalidade é caracterizado por forte inclinação ao perfeccionismo, preocupação excessiva com detalhes, regras, listas, ordens, organização ou horários, insistência em impor aos outros o seu modo de desenvolver tarefas, indecisão, excesso de responsabilidade, inflexibilidade a respeito de regras, moral ou éticas, extrema dificuldade para expressar sentimentos, incapacidade de desfazer-se de objetos inúteis.
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As idéias podem aparecer sob formas de pensamentos, frases, imagens ou impulsos. A criança, em geral, tenta resistir e se livrar da idéia obsessiva e quando tem sucesso, obtém alivio temporariamente. Mas, de modo geral, a idéia obsessiva sempre é um pensamento ou idéia repetitiva que não sai da cabeça, mesmo contra a vontade do paciente e o grande esforço mental despendido tentando controlar tais pensamentos pode ser exaustivo.

Normalmente isso tudo não é notado pelas pessoas em volta. Entretanto, quando a criança começa a desenvolver atitudes ou rituais para afastar tais idéias como, por exemplo, tocar metodicamente objetos, repetir atitudes aparentemente sem propósito, negar-se a fazer coisas, passar por lugares, vestir determinadas roupas inexplicavelmente, aí sim a família começa manifestar estranheza.
As idéias são as obsessões e as atitudes estranhas (manias) são as compulsões, daí o nome obsessivo-compulsivo.


Umaidéia obsessiva comum é o medo patológico de perder o controle e realizar algum ato inadequado socialmente; envergonhar pessoas, cometer algum vexame publicamente, engasgar, derramar comida, etc. Isso acaba fazendo a criança retrair-se socialmente. Aqui também as idéias obsessivas fazem com que a criança pergunte inúmeras vezes a mesma coisa, e mesmo sabendo a resposta à sua dúvida, elas insistem em ouvir de novo e seguidamente.

As idéias obsessivas de sujeira e contaminação normalmente giram em torno de temas que envolvem excrementos humanos ou de animais, pó, suor, urina, sangue, germes, doenças, toxinas, radioatividade, etc. A criança pode ter idéias obsessivas quanto à sua própria auto-estima, achando-se suja, prostituta (se menina), homossexual (mais comum em meninos), pecadora e assim por diante.

Podem existir temas impessoais como, por exemplo, a conferência ininterrupta de contas, problemas matemáticos, figuras geométricas, solução de quebra-cabeças e enigmas, fechaduras, ordenação no arranjo dos mais variados objetos, cisma com determinadas palavras e números. De modo geral, é bom ter em mente que as idéias obsessivas são as mais variadas possíveis, chegando ao limite do bizarro, como, por exemplo, ficar ligando mentalmente, através de retas imaginárias, pontos abstratos da paisagem que se vê.

A compulsão é um comportamento sistemático, repetitivo e intencional executado numa ordem pré-estabelecida. As ações compulsivas não têm um fim em si mesmo, pois são racionalmente absurdas. Elas servem para prevenir ou aliviar a ocorrência de um determinado evento imaginário (acidentes com os pais, por exemplo) ou outras situações ameaçadoras. O ritual todo, por exemplo, pode ser assim: “se eu não bater na madeira 3 vezes, alguém de minha família terá câncer”... “se eu não tocar o objeto que vou pegar 5 vezes antes de pagá-lo, ele pode cair no chão e se quebrar”... “se eu não rezar 2 vezes essa oração, sem dúvida o capeta virá me buscar”...

O ato compulsivo é precedido por uma sensação de urgência, seguida de alívio temporário da ansiedade após a realização do mesmo. A pessoa tem consciência que tais atos são irracionais, apesar do ritual diminuir sua ansiedade. Essas atitudes compulsivas das crianças podem ser mal compreendidas pelos pais, os quais tentam corrigir com advertências, castigos ou agressões. É difícil também, algumas vezes, distinguir um tique de um comportamento compulsivo. De qualquer forma, aconselha-se aos pais que, diante de tiques, verifiquem a possibilidade do TOC.

Nas crianças, entretanto, é comum a dificuldade em relatar e descrever seus sintomas, principalmente solicitar ajuda, o que dificulta o diagnóstico e o início do tratamento. Compulsões comuns são de limpeza e descontaminação, como por exemplo, lavar repetidamente as mãos, roupas, objetos pessoais, limpar, lavar ou esterilizar objetos (roupas, sapatos, cadeiras, toalhas, etc.) que tenham sido “contaminados” de alguma forma. Isso se dá através de lavagem das mãos, esterilização e assepsia com álcool, banhos prolongados, rituais de limpeza determinados, uso abundante desinfetantes.

A compulsão de verificação diz respeito à necessidade imperiosa e absurda de testar, conferir ou examinar repetidamente, para estar seguro, determinados atos ou circunstâncias. Por exemplo, voltar inúmeras vezes para verificar se a porta está fechada, o gás desligado, a luz apagada, a janela fechada, a gaveta fechada, etc. Os rituais de verificação são preventivos, procurando assegurar que nenhuma catástrofe irá acontecer. O próprio paciente sabe que a possibilidade de ocorrer aquilo que imagina é muito remota, mas mesmo assim não consegue controlar a compulsão.

A compulsão de repetir ou tocar também é muito comum, uma vez que a própria característica das compulsões é a repetição. Acender e apagar a luz diversas vezes para aliviar a ansiedade da dúvida de ter deixado acesa, beijar um certo número de vezes uma imagem ou objeto sagrado para aliviar a ansiedade de que pode acontecer alguma coisa de ruim, etc. Com freqüência, a repetição implica ainda em um número definido de vezes. Assim uma pessoa pode lavar as mãos 13 vezes, ou repetir uma oração 18 vezes e assim por diante.

Os rituais compulsivos implicam em repetir de maneira precisa, seguindo regras arbitrárias e mágicas, praticamente litúrgicas. Antes de subir escadas, colocar o pé direito, tirar e colocar de novo ao mesmo tempo em que aperta a mão esquerda, por exemplo. Esses atos complicados e demorados podem limitar a vida social e ocupacional, obrigando-o a adotar alguns disfarces e dissimulações para que não percebam suas manias, já que o paciente tem noção do absurdo de seu comportamento.

Compulsão de simetria e ordem obriga o paciente a colocar objetos numa ordem e simetria pré-determinadas, como por exemplo, arrumar as camisas pela cor, simetricamente ou uma gaveta obsessivamente organizada, ou os objetos sobre a mesa de modo pré-estabelecido.

Há um tipo de comportamento compulsivo chamado de colecionismo, que consta em juntar objetos, ter extrema dificuldade de se desfazer das coisas, não jogar nada fora. É comum encontrar na casa dessas pessoas pilhas de revistas, embalagens de plástico, vidrinhos, etc. As crianças, entretanto, podem juntar lascas da própria unha, fios do próprio cabelo, e coisas assim.

Diante da suspeita do TOC os pais devem tentar identificar em seus filhos algumas lesões cutâneas, tanto aquelas conseqüentes da lavagem excessiva das mãos, quanto da auto-escoriação. Devem ser verificados também os trejeitos e tiques, o tempo excessivo gasto para a realização das tarefas (de casa e da escola), buracos nos cadernos ocasionados por apagar seguidamente, solicitação para familiares responderem a mesma pergunta várias vezes, medo persistente e absurdo de doença, aumento excessivo na quantidade de roupas para lavar, tempo excessivo para preparar a cama, medo persistente e absurdo de que algo terrível aconteça para alguém, preocupação constante com a saúde dos familiares.
                                     TABELA 1 - SINTOMAS DO TOC INFANTIL
Sintoma % de indivíduos que queixaram
OBSESSÕES
%
Pensamentos e preocupações com sujeira, germes
40
Medo algo terrível em si ou em alguém amado: fogo, morte, doença
24
Pensamentos sobre simetria, ordem, exatidão
17
Escrupulosidade excessiva, obsessões religiosas
13
Preocupação em perder secreção do corpo, urina, saliva
8
Pensamentos sobre números de sorte ou azar
8
Medo de ter impulsos de agressividade, algo proibido, impulsos sexuais
4
Medo de ferir os outros ou a si próprio
4
Sons, palavras ou músicas intrusas que “não saem da cabeça”
1
COMPULSÕES
%
Lavar as mãos, escovar os dentes, tomar banhos
85
Rituais de repetição como abrir e fechar a porta, descer escada
51
Checagem de portas, travas, tarefas, luzes
46
Diferentes rituais (manias) de escrever, falar, se movimentar
26
Rituais para se livrar de contaminantes
23
Ter que tocar as coisas
20
Medidas preventivas para não machucar ninguém
16
Arranjar as coisas, colocar em certa ordem
17
Contar e recontar
19
Empilhar ou colecionar
11
Rituais de limpar a casa ou objetos inanimados
6



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