segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Síndrome de Tourette por Dra.Ana Hounie

Querer ser tratado como incapaz aumenta o preconceito, contribui para que os Tourréticos sejam vistos como pessoas diferentes ou anormais, o que, na minha opinião, deve ser evitado a todo custo."
                                                                              Dra. Ana Hounie



Quando conheci a Tourette, conheci também o livro : Tiques, cacoetes, síndrome de Tourette, um manual para pacientes, familiares e profissionais da área de saúde ( Ana Hounie e Eurípedes Miguel).

Ganhei de presente , assim que recebi o diagnóstico do meu filho. Não devorei o livro, como costumo devorar os romances. Foi um processo lento , mas a primeira edição foi por muitos anos meu livro de cabeceira. O livro me dava conselhos , me dava medo e ao mesmo tempo esperança, me indicou caminhos e  me abrigou. Hoje só troquei pela segunda edição.

Foi pensando na presença constante das palavras escritas da Dra. Ana Hounie ,que para comemorar um ano do blog, pedi para nos presentear com mais palavras escritas , só que dessa vez, em especial para o blog.

E recebi .

Foi uma grande surpresa ler o texto, me fez repensar pontos da Tourette e da inclusão, não apenas a escolar , mas também a inclusão social. Um dos pontos que me tocou profundamente, foi verificar que a inclusão não é apenas deixar que participe de algo , mas sim participar dando o que se tem de melhor.

Nunca acreditei que um portador de Tourette (leve a moderada ) pudesse ser considerado incapaz , foram perfeitas suas palavras quando disse:"Querer ser tratado como incapaz aumenta o preconceito, contribui para que os Tourréticos sejam vistos como pessoas diferentes ou anormais, o que, na minha opinião, deve ser evitado a todo custo"

Sou mãe, amo meus filhos imensamente  e como alguém que ama , quero o melhor para eles. Quero inclusão social, quero inclusão escolar. Entendo por inclusão : dar condições para que possa ser dado o melhor de si, dar condições para que portadores possam desenvolver o que sabem.

Por exemplo : se uma pessoa não pode escrever , a inclusão funciona em organizar maneiras para que nada se perca por causa desta dificuldade, ou o aumento do tempo nas provas , o uso do computador , letras maiores em caso de déficit de atenção.

Estes exemplos se encaixam na hipótese de "atendimento especial" em concursos públicos ou em escolas, que se refere a uma incapacidade parcial ou temporária, que não se confunde com a incapacidade de uma deficiência.
 Como o exemplo de pessoas com deficiência visual. É um elemento prejudicial que não leva a uma inaptidão física ou psíquica.

" É muito digno e nos orgulha ver pessoas vencerem suas limitações..." É realmente isso que esperamos !!!!

Texto abaixo de  Dra. Ana Hounie:


Ana G Hounie . Psiquiatra, Doutora em Ciências. Coordenadora do Ambulatório de Síndrome de Tourette do HCFMUSPide

Fui procurada recentemente por um advogado que precisava de ajuda em um caso.

 Uma pessoa com síndrome de Tourette fez um concurso público e se inscreveu nas vagas destinadas a pessoas com deficiência.

 Passou no concurso, mas quando foi examinado pela junta médica, teve seu pedido negado pois a ST não é uma deficiência.

 Esse indivíduo procurou o advogado para entrar com um processo contra o Estado alegando que a ST o prejudicava na sua vida profissional, pois sofria preconceito (embora na sua vida pessoal ele vivesse muito bem) e o advogado me procurou para que eu emitisse minha opinião.

   Vejam minha resposta: “A síndrome de Tourette é uma doença neuropsiquiátrica, ou seja envolve o sistema neurológico e o mental.

 Está classificada na CID (classificação internacional de doenças), tanto no capitulo de neurologia como de psiquiatria.
 
No entanto, não é uma doença que afete a capacidade civil, nem a responsabilidade penal, salvo em raríssimos casos, em que podia haver atenuante (por dificuldade de controle dos impulsos). A ST pode ser branda e não precisar de tratamento ou gravíssima e incapacitante, que não parece ser o caso do rapaz em questão.

Sofrer preconceito não é doença mental nem torna ninguém incapacitado, veja os casos dos homossexuais ,dos negros. Os obesos também sofrem preconceito, teriam eles direito por conta disso a uma vaga por incapacidade? Não, é minha opinião.

 Somente um perito psiquiatra poderia decidir nesse caso se há ou não incapacidade ou deficiência que o fizesse merecer uma vaga especial, mas me parece que não há, pois ele diz que leva a vida normalmente, apesar do preconceito.

 Se sofrer preconceito garantir uma vaga no sistema público de funcionalismo, o sistema está perdido, pois qualquer pessoa que pode alegar que sofre preconceito e requerer uma vaga especial.

 A ST não afeta a inteligência, e o rapaz em questão poderia concorrer com os outros candidatos por uma vaga normal. Além disso, a vaga dele não precisaria de recursos ou funções especiais, como para os deficientes visuais, auditivos ou os paralíticos.

Me parece que apelar para um diagnóstico de ST para garantir uma vaga pode ser oportunismo, mas somente o perito psiquiatra pode avaliar com precisão pois cada caso é um caso.”

Acho importante esclarecer estes pontos, pois não se deve confundir sofrimento com incapacidade. Todas as pessoas que sofrem com alguma doença devem se empenhar em buscar para si o melhor tratamento e a superação dos seus problemas.

Devem vencer o preconceito, lutar contra ele e exigir serem tratados como uma pessoa normal, e não buscar o contrário, ser tratado como uma pessoa especial ou diferente.

Buscar regalias por ter ST leve ou moderada (os graves e incapacitantes são outra história) é sucumbir à doença, é esconder-se atrás de um diagnóstico, é definir-se pelo patológico em vez de aprimorar suas potencialidades.

    É muito digno e nos orgulha ver pessoas que vencem suas limitações, superam seus limitem e conseguem seguir adiante em suas vidas, estudando, trabalhando, constituindo família e participando da sociedade como uma pessoa qualquer.

Querer ser tratado como incapaz aumenta o preconceito, contribui para que os Tourréticos sejam vistos como pessoas diferentes ou anormais, o que, na minha opinião, deve ser evitado a todo custo.
                                                                                                                                                                                                           Dra. Ana Hounie
 




 
 

7 comentários:

  1. Meu filho tem 10anos e foi diagnosticado a 3 com a síndrome, ainda n conseguimos medicamento que diminua, gostaria de saber onde a senhora atende. Meu e-mail bicg27@gmail.com

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    1. Fabiane ,vc é de onde? a Dra. Ana Hounie é de São Paulo , mais vou passar o local onde ela atende

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    2. Ana G Hounie
      Rua Itapicuru 369 cj 1505
      Perdizes
      São Paulo-SP
      Brasil
      CEP 05006-000
      Fone 11-36667724
      ana.hounie@gmail.com
      http://toctourette.blogspot.com.br/

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    3. Fabiane , também temos um grupo no face de familiares e pessoas com Tourette se vc quiser participar: trocamos experiências, conversamos.... Síndrome de Tourette,Toc e Tdah

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    4. Oi
      Eu quero participar desse grupo.
      Meu filho tem ST desde os 9 anos.Hj tem 14 e no momento, está com os tics mesmo tomando os remédios.Meu cel é 99616- 6836

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  2. Bueno.

    Desde de sempre tenho os "tiques" da ST, coisa que só fui descobrir aos 36 anos de idade. Pelo que já li, com ajuda principalmente desse blog, tenho o nível 1, vamos dizer assim. Quando criança sempre sofri "bullying" que aquele tempo nem tinha nome pra isso, principalmente pelos meus familiares, acho que sei porque até hoje estou longe deles. Sempre fui um bom aluno, e sempre me destacava, porém, como o texto acima descreve, para alcançar isso sempre tinha que gastar muita energia, muita mesmo. E até hoje é assim, mas nunca me impediu de realizar minhas façanhas, estudei em uma universidade federal concorrida para entrar e como no meu atual emprego público federal, onde entre 10.000 candidatos fiquei entre os 20 melhores, e em primeiro lugar no meu estado, tendo um ótimo emprego a quase 10 anos, desempenhando um ótimo trabalho e sendo referência técnica de confiança entre meus colegas de trabalho. Claro, que a um custo um pouco maior que os outros, pois tendo a ST cada atividade que faço passo por aquelas situações de perfeccionismo, responsabilidade excessiva que não consigo me livrar, porém, já consegui diminuir um pouco, e tive cargo de chefia por um tempo, mas tive que largar pois chefia em cargo público sendo detalhista que sou é impossível, e isso estava me matando. Pena que moro no interior do Brasil, aqui pela amazônica, e não tem tratamento aqui perto. Um abraço a todos e parabéns pelo blog. Mauricio - florestasmk@yahoo.com.br

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