De mãe para mãe: Sempre vai existir um caminho!!!!!
"Minha vontade era nunca mais sair de casa e não deixar ninguém ver meu filho, protege-lo de tudo e de todos, mas entendi que eu não poderia protege-lo para sempre, afinal não sou eterna, tinha que prepara-lo para juntos enfrentarmos tudo isso. "
Recebi esse e mail que foi escrito com o coração de uma mãe que luta por seu filho e que está somando forças para divulgar a Síndrome de Tourette nas escolas de seu Estado, me orgulho de histórias de vida assim!!!!!
Por Rita Guertta
"Visitei seu blog, adorei. Já havia te falado da vontade de falar sobre ST nas escolas e cursos de pedagogia, então vou contar a minha história e se puder pode postar.
Fui casada por 13 anos e tenho 2 filhas lindas desse relacionamento, hoje uma com 25 anos, casada e 2 filhos e a outra com 21 anos, solteira. Fiquei sozinha por 5 anos e então conheci o Gilmar e estamos juntos há 14 anos e tivemos um filhote chamado Júlio César que esta agora com 12 anos.
Aos 2 anos de idade meu filho apresentou uma careta horrível e desmaiou. Corri para o hospital e durante o trajeto ele acordou e tudo parecia normal. O médico examinou e disse que nada havia de grave. Desde esse dia o nervosismo dele se tornou insuportável, seguido de ataques de gritos e agressividade.
Aos 5 anos suas caretas aumentaram e junto veio os barulhos com a garganta, os gritos, o esticar de braços quando falava e ao assistir TV virava a cabeça para o lado e entortava os olhos e boca.
Os médicos diziam que ele fazia aquilo para chamar minha atenção, era uma criança manhosa e precisava ser corrigido. Nessa época as minhas meninas eram adolescentes e brigavam com ele o tempo todo. Por eu ser enfermeira estava sempre em contato com os médicos, mas não conseguia mudar aquela situação.
Coloquei meu filho em uma escolinha, mas piorou, batia em outras crianças e eu percebia que ninguém conseguia gostar dele, nem mesmo as professoras. Um dia uma psicóloga me falou que o problema dele era emocional, por não saber lidar com a emoção ele então fazia essas caretas e gritos e até esses desmaios, por não conseguir controlar seus sentimentos.
Coloquei meu filho em outra escola e nada mudou, só ia piorando. Conversava com meu marido e outros parentes e dizia que eu sentia que ele não era normal, que ele era diferente ,mas ninguém acreditava.
Durante a noite não conseguíamos dormir pois os barulhos que meu filho fazia incomodava toda a família, ouvíamos o som e a agitação de seu corpo. Enfim chegou o primeiro ano escolar e só coloquei ele na escola com 7 anos.
Sem ter concluído a pré-escola, ele não sabia ler nem escrever seu nome como as outras crianças. O inferno então começou, se eu achava que as coisas não poderiam piorar eu me enganei, tudo piorou, os tiques aumentaram, as agressões aconteciam todos os dias, ele não conseguia aprender nada e era colocado para fora da sala de aula pois segundo a professora os barulhos que ele fazia com a boca atrapalhavam as outras crianças.
Todos os dias eu recebia um telefonema da escola dizendo que o Júlio havia batido em uma criança, tinha que sair do serviço e ir até a escola, onde era tratada como a mãe que não educa seu filho.
Nessa ocasião alguns médicos disseram que poderia ser dislexia, mas depois descartaram, falaram de autismo, mas também descartaram. Troquei ele de escola quando ele reprovou o terceiro ano.
Conheci então uma professora maravilhosa que escutando minha historia me prometeu ajuda, me disse que ela conseguiria fazer meu filho aprender se eu colaborasse com ela, fazia tudo que ela mandava, sentava com ele em casa para estudar, passei a ser mais rígida e firme com ele, não aceitava uma reclamação contra a professora.
O Júlio César então passou a não falar mais nada sobre a escola, mas ficou pior em relação aos tiques e agressividade e não aprendia a lição. Após 8 meses com essa professora, descobri que meu filho sofria agressões por parte dela, era chamado de retardado, apanhava de régua, puxões de cabelos, tapa nas costas, fiquei louca, descontrolada e ao mesmo tempo me sentia culpada por ter deixado que ele passasse por isso.
Comecei a entender que o Júlio César se tornava agressivo no recreio por sofrer tanto calado, em sala de aula e não sentir apoio de minha parte para poder contar o que se passava com ele. Me senti um lixo de mãe, a pior do mundo e a tristeza que passou a morar dentro do meu peito era tão grande, tão grande que não havia mais nem um pingo de alegria em mim. Denunciei a professora, mas não tive muito sucesso pois ela recebeu o apoio da direção da escola e funcionários, era a palavra dela contra a do meu filho.
Enfim, troquei de escola novamente, nesta época meu filho passava uma vez por semana com uma psicóloga que após alguns meses me chamou e disse que havia descoberto o problema dele. Ela então me falou:---Seu filho e deficiente mental, calma mãe não precisa chorar, se você não contar para ninguém, as pessoas nem vão perceber.
Sai daquele consultório aos prantos, quase fui atropelada por um carro, pois andava desnorteada pelas ruas sem conseguir raciocinar, liguei para meu marido e disse que não aceitava aquele diagnostico, eu sabia que tinha algo errado, mas que não era aquilo.
Tenho uma sobrinha advogada que mora muito longe de mim, ela um dia me telefonou e disse: ---- Tia, tenho uma amiga que o filho dela balança a cabeça igual o Júlio, ela levou ele no médico e disse que é uma síndrome, mas não lembro o nome, vou ligar para ela e anotar o nome depois ligo de novo. Quando minha sobrinha me ligou e falou síndrome de Tourette, eu estava ouvindo esse nome pela primeira vez, entrei na internet e comecei a ver vários vídeos e em cada uma daquelas crianças eu via meu filho, ou ele já havia tido o tique parecido ou estava fazendo o mesmo tique.
Encontrei a Dra Ana no HC e então ela o diagnosticou com ST, toc e deficiência no aprendizado, meu filho se encontrava com 10 anos de idade.
Fiquei trancada por 2 meses dentro de casa, chorando e ao mesmo tempo procurando tudo sobre ST, quando consegui informações que infelizmente são poucas, sentei com minha família e meu filho e expliquei tudo para eles, mostrei os vídeos, os textos, li em voz alta para todos. Minha vontade era nunca mais sair de casa e não deixar ninguém ver meu filho, protege-lo de tudo e de todos, mas entendi que eu não poderia protege-lo para sempre, afinal não sou eterna, tinha que prepara-lo para juntos enfrentarmos tudo isso.
Nunca pensei me encontrar nessa situação, mas aqui estou. Hoje o Júlio César, está com 12 anos e vai muito bem na escola, tem dificuldades é claro, mas consegue aprender com o uso da ritalina, outros remédios vieram e se foram, sei que será para sempre esse vai e vem de remédios, estamos preparados para isso.
Hoje meu filho não agride mais e chega da escola sorrindo e diz: ___Tenho uma novidade...tique novo, olha. Ele me mostra o "tique novo" e se for um tique engraçado, damos risada juntos, se for mais agressivo eu o abraço e falo para ele: ---- Logo vai passar filho.( demora as vezes uns quatro meses).
Quando vamos ao shopping, as pessoas ficam olhando, então eu paro com ele no meu do corredor e mostro para ele que ninguém é igual, cada um um tem seu jeito de ser, e explico que se fugimos do padrão da sociedade, acabamos sendo notados, mas faço tudo isso com muito humor, damos risadas e continuamos nosso passeio que são raros, pois ele não gosta muito de sair.
Fazemos questão, quando conhecemos alguém de falar sobre a ST, meu filho explica o que ele tem certinho. Ele é um pouco tímido, mas explico para ele a importância das pessoas saberem. Meu marido demorou mais para aceitar, mas após muita conversa e paciência acabou aceitando e colabora muito, são amigos inseparáveis.
Continuo trabalhando, mas mudei meu horário, fico mais tempo em casa agora. Explico até para os médicos onde trabalho o que é ST, pois ninguém conhece, é incrível mas é a pura verdade.
Se der tudo certo, com a ajuda da Daniela, vou falar sobre ST nas escolas e onde mais puder. Agora consigo visualizar um futuro para meu filhote e desejo a todas as mães o mesmo. Obrigada pelo espaço Dani. Beijos"